Abstract

Um doente de 63 anos recorreu ao Serviço de Urgência por vómitos e desequilíbrio, apresentando analiticamente uma eritrocitose significativa (hemoglobina de 22 g/dL) e uma provável lesão ocupante de espaço cerebral a nível tomográfico. Esta acabou por não ser confirmada, após admissão na enfermaria, aquando da realização de uma ressonância magnética que permitiu diagnosticar lesões isquémicas em diferentes fases de evolução. Por apresentar microcitose e ferropenia, foi submetido a uma endoscopia digestiva alta que revelou displasia de alto grau e metaplasia intestinal com positividade na pesquisa de Helicobacter pylori. Uma eritropoietina sérica quase indoseável, a positividade para JAK2 e uma biópsia demonstrando hipercelularidade e mieloproliferação trilinear permitiram assim estabelecer o diagnóstico de policitemia vera (PV), tendo o doente iniciado terapêutica com aspirina e hidroxiureia.
A PV é uma neoplasia mieloproliferativa crónica cujo curso clínico se caracteriza frequentemente por fenómenos trombóticos. O diagnóstico ocorre na sequência de tromboses em cerca de 30% dos casos, sendo que os eventos arteriais e cerebrovasculares são mais frequentes. Em contrapartida, a associação com doença ulcerosa péptica não é tão linear mas a positividade para Helicobacter pylori e a hemorragia gastrointestinal foram descritas como mais prevalentes em doentes com neoplasias mieloproliferativas. Especificamente nos doentes com PV e como ilustrado neste caso, a presença de ferropenia ou microcitose pode indiciar esta associação, sendo porventura pertinente uma vigilância dos doentes com PV relativamente ao atingimento gastroduodenal.

© 2017 Galicia Clínica.

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